segunda-feira, 27 de julho de 2009

Palavras de um terrorista aposentado - LF. Ribas

Posso dizer, com certa tristeza, que passaram-se anos desde a última vez que escrevi algo para ser divulgado no meio punk/hardcore, que foram as matérias e textos publicados na primeira e única edição do Existência e Resistência, zine de papel que ajudava a editar, junto com Beavis, e com a colaboração de diversas pessoas. Claro, durante esse tempo, não deixei de estar envolvido com a cena, e inclusive redigi alguns textos, que foram utilizados para diversos fins, mas quero dizer que fazia anos que não escrevia sobre minha visão pessoal da coisa toda.

Meu "desaparecimento" se fez por diversos motivos, mas o maior deles foi a falta de tempo e de inspiração para sentar, pensar, e escrever. Apesar de esteticamente não mais me enquadrar na “cartilha do punk-modelo”, minhas idéias não mudaram, e continuo acreditando nessa porra, acreditem ou não. Agora, acho que está na hora de me empenhar um pouco mais do que tenho feito, e voltar a falar sobre as coisas que vejo e penso. Faço isso para mim, por isso o caráter pessoal do texto. Bom, vamos lá...

Ontem fui a um festival organizado por alguns camaradas, envolvidos com a cena street punk e skinhead da cidade, o Coletivo se denomina Molotov. Além de prestigiar o evento, fomos convidados à tocar no show, com nossa banda Odeie Seu Ódio. Chegando lá, fiquei feliz ao rever rostos conhecidos e que ficaram distantes por anos. Reencontrar o pessoal de São Bento do Sul, da banda Rejects, foi ótimo, mesmo tendo hoje em dia visões tão diferentes, é bom trocar idéias e ver como todos andam. Também por lá, comecei a olhar em volta e perceber como as coisas mudaram de alguns anos para cá. Da época da publicação do nosso antigo zine, até hoje, passaram-se pouco mais de 3 anos, e nesse tempo, de acordo com minha visão, a cena na cidade evoluiu positivamente, pelo menos em um sentido. Naquela época, eu acabava de conhecer a cultura skinhead antifascista, e ao meu redor, poucos tinham conhecimento da mesma, e esse foi o tema que abordei na matéria que escrevi para nosso zine. E lembro que quando o zine saiu, ouvi diversas críticas, de várias partes, pois escrevi sobre uma possível união, e ação conjunta de punks e skinheads, cooperando para a re-construção desta cena independente, que estava(e de certa forma, está ainda hoje) tão fragmentada na cidade.

Mas da mesma forma que a matéria teve um impacto negativo, abriu alguns espaços de discussão, e assim o tema veio a tona. Em seguida, começamos a distribuição de alguns panfletos e informativos, enviados por uma amiga de Brasília, sobre a cultura skinhead. Também na mesma época, ouve o espaço aberto em um show, para debate e discussão do assunto. Com estes pequenos passos iniciais, a discussão estava aberta. E o tempo passou. Chegou à cidade Edilton, skinhead de São Paulo, ex-integrante da RASH(e que hoje é um grande camarada), e com ele, surgiram vários novos skins na cidade, alguns deles envolvidos posteriormente com o Coletivo Contraparte.

E ontem, andando pelo show, pude perceber como as coisas mudaram, e que hoje existem vários skins antifascistas, tanto em Joinville, como um pessoal de São Bento do Sul, e todos caminham lado a lado com os punks, construindo algo que podemos novamente chamar de uma cena, com novas bandas, eventos, e pessoas engajadas em dar continuidade a essa história. E o que me deixa mais feliz, é perceber como temas como a luta contra a homofobia, que antes era muito subjetiva, hoje está tomando proporções reais, e tem tornado-se uma fala recorrente nos eventos e nas palavras dos punks e skins.

Enfim, sou conhecido por meus textos com reclamações e críticas a diversos assuntos, porém, acredito que quando vemos algo positivo acontecendo, é ainda mais válido escrever sobre isso. E posso dizer que fiquei feliz com o que vi na cidade ontem. Claro, ainda existem muitas coisas que precisam melhorar, como o fato do pessoal que não entra no show e fica na frente do Bar, consumindo bebidas trazidas de casa, e jogando lixo na casa da vizinhança. Esse tipo de coisa que atrasa o andamento da cena na cidade, mas aos poucos deve mudar para melhor, só depende da consciência de cada um.

Um passo de cada vez. Talvez algumas coisas tenham melhorado um pouco, pelo menos estamos começando a ficar mais unidos, finalmente.

L.F.Ribas

Um comentário:

  1. Boa Ribas, gostei bastante do que escreveu. Conte com a gente sempre...abraços, e beijos pra vcs todos(as)!!
    Mamá

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